Diante dos impactos esperados com a Rota Bioceânica, o Governo de Mato Grosso do Sul está promovendo uma ampla reorganização da rede hospitalar, especialmente nas cidades da faixa de fronteira. A estratégia, coordenada pela SES (Secretaria de Estado de Saúde), aposta na regionalização dos atendimentos, com a criação de cinturões de média complexidade em torno de centros de alta complexidade, como Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.
O novo modelo prevê que atendimentos primários e estabilizações de urgência ocorram nas cidades de origem dos pacientes, enquanto procedimentos de média complexidade, como cirurgias gerais, ortopédicas, ginecológicas e urológicas, serão concentrados em polos regionais como Ponta Porã. Os casos mais graves serão direcionados aos grandes centros de referência.
De acordo com o médico João Ricardo Tognini, da Assessoria Técnica Médica da SES, a reorganização busca se antecipar ao crescimento populacional e econômico na região sul do estado, especialmente em Porto Murtinho, que terá ligação internacional com Carmelo Peralta, no Paraguai, por meio de uma ponte sobre o Rio Paraguai.
“Além dos riscos associados à mobilidade, como acidentes e traumas, há a necessidade de ampliar o acesso à saúde preventiva e curativa em todas as complexidades”, explicou Tognini.
Modelo em rede e transporte aeromédico
O modelo proposto aposta em uma lógica hierarquizada: centros de referência serão apoiados por cidades vizinhas estruturadas para absorver a média complexidade, como Bela Vista, Antônio João e Jardim. Segundo a SES, a estrutura será reforçada com investimentos em infraestrutura hospitalar, capacitação de equipes, novos equipamentos e melhorias no sistema de regulação.
Uma das prioridades é reduzir a sobrecarga dos grandes hospitais, descentralizando atendimentos e evitando deslocamentos longos de pacientes. O transporte aeromédico também será ampliado como ferramenta estratégica para situações de emergência, considerando as grandes distâncias entre municípios e a baixa densidade populacional em várias regiões.
“O paciente precisa estar no lugar certo, na hora certa, com o cuidado adequado”, destacou o secretário de Estado de Saúde, Maurício Simões Corrêa. “Não basta construir hospitais. É preciso considerar a capacidade de gestão local, o perfil populacional e a lógica de funcionamento em rede. Em muitos municípios, manter equipes completas e estrutura de alta complexidade não é viável”.
Porto Murtinho e Ponta Porã: funções distintas
No caso de Porto Murtinho, que tem menos de 20 mil habitantes, o foco será no fortalecimento da atenção primária. Já os casos mais complexos serão encaminhados para centros como Ponta Porã, que conta com um Hospital Regional de 127 leitos. A unidade deve receber reforço em especialidades como ortopedia e urologia, com uso de tecnologias como a videocirurgia.
A intenção da SES é otimizar a ocupação dos leitos e evitar que casos simples ocupem vagas destinadas a pacientes graves. A regulação estadual será fundamental para esse controle.
Cooperação com o Paraguai
A proposta de regionalização também foi discutida no Encontro de Cooperação Interfederativa em Saúde Brasil – Paraguai, realizado nos dias 28 e 29 de abril, em Ponta Porã. O evento reuniu autoridades dos dois países, além de organismos internacionais, para debater estratégias de integração na saúde transfronteiriça.
Na ocasião, foi assinado um termo de cooperação entre Brasil e Paraguai para iniciar um mapeamento completo das estruturas hospitalares nas cidades da linha de fronteira, como Ponta Porã (MS), Mundo Novo (MS), Pedro Juan Caballero (PY), Foz do Iguaçu (PR) e Ciudad del Este (PY).
“O mapeamento nos permitirá entender, em detalhes, a realidade de cada município, utilizando o cruzamento de dados a fim de verificar onde há falta de insumos, profissionais ou leitos. Esse levantamento é essencial para direcionar investimentos e criar uma rede de saúde integrada, capaz de atender rapidamente a população fronteiriça”, afirmou a secretária-adjunta da SES, Crhistinne Maymone, que assinou o documento representando Mato Grosso do Sul.