O coletivo TransCine – Cinema em Trânsito inicia em Campo Grande uma nova ação de formação audiovisual voltada a adolescentes da periferia: a oficina “Conte Sua História”, durante o mês de maio em Campo Grande. Serão quatro momentos, em quatro bairros diferentes da capital, com turmas de 20 alunos cada, com adolescentes de 11 a 16 anos.
A proposta é simples, mas profundamente transformadora: capacitar jovens para contar suas próprias histórias por meio do audiovisual, utilizando o que já está ao alcance de quase todos — o celular — como ferramenta de criação.
Durante cinco dias consecutivos, com quatro horas de atividade por dia, os participantes irão aprender a construir um filme do início ao fim. Durante a oficina, cada turma será dividida em grupos e cada grupo deverá produzir um curta-metragem original, inspirado em experiências e vivências locais. As exibições dos trabalhos serão feitas ao final de cada ciclo, valorizando a produção coletiva dos alunos.
A formação será conduzida pela diretora de fotografia Catia Santos, responsável por trabalhar os fundamentos da linguagem audiovisual, e por Laynara Rafaela, diretora e roteirista de cinema, que guiará os participantes na criação e estruturação de roteiros.
Para Cátia, levar a linguagem do audiovisual para dentro das comunidades periféricas é um passo fundamental para democratizar o acesso à cultura e fortalecer a voz da juventude. “O celular é uma ferramenta cada vez mais presente na vida dos jovens. Ensinar a linguagem do audiovisual com ele é dar voz a esses adolescentes, permitindo que as histórias que carregam em seus corações venham à tona. É democratizar a criação, mostrar que a expressividade existe em diversos contextos”, explica.
A educadora acredita que as oficinas têm o potencial de despertar uma série de habilidades nos participantes, como criatividade, pensamento crítico, trabalho em equipe e resolução de problemas. “Acredito em transformações que vão além do aprendizado técnico. Imagino um despertar de olhares mais atentos sobre o mundo, uma capacidade aprimorada de expressar sentimentos, e um florescer da autoconfiança ao perceberem o poder de suas próprias narrativas. Talvez alguns descubram ali uma vocação”, afirma.
A prática será o eixo central da metodologia. “A teoria vai surgir da experiência. A partir do manuseio da câmera, vamos descobrir juntos o enquadramento, a luz e o som. Também vamos explorar aplicativos de edição para celular que sejam acessíveis e criativos, permitindo que os jovens editem seus próprios filmes com liberdade e expressão”, completa Cátia.
Já a construção dos roteiros será guiada por Laynara Rafaela, que destaca a importância de tornar o conteúdo acessível e próximo da realidade dos alunos. “Vamos ensinar a estrutura de um roteiro a partir do que eles já conhecem: pensar uma história, imaginar uma situação, construir personagens baseados em vivências reais. Usamos a linguagem deles, do cotidiano, para mostrar que cinema também é feito de oralidade, de imaginação, e de possibilidades que estão ao alcance de todos”, explica.
Laynara vê o projeto como um ato de aproximação com um universo que, para muitos jovens, parece distante e inalcançável. “Ser cineasta, roteirista, diretor, muitas vezes nem passa pela cabeça desses adolescentes. Mas quando mostramos que isso é possível, que eles podem contar as próprias histórias com os recursos que já têm, algo se acende. O cinema deixa de ser algo de fora e passa a ser ferramenta de dentro”, ressalta.
As oficinas propõem ainda um trabalho coletivo, com dinâmicas em grupo que estimulam a colaboração e a descoberta de talentos. Exercícios de escrita, observação, desenho e criação de cenas vão ajudar a identificar afinidades entre os participantes e promover a construção de roteiros alinhados com as realidades dos bairros onde vivem.
“A maior motivação para mim é poder partilhar conhecimento com pessoas que estão distantes de acessá-lo. Eu venho de uma realidade semelhante e sei o quanto é poderoso descobrir que você pode criar, pode realizar, pode filmar e ser ouvido. Quero que esses jovens entendam que eles também podem fazer cinema, escrever, dirigir, atuar. Que eles possam sonhar e realizar a partir de onde estão”, finaliza Laynara.
Com linguagem acessível, estrutura prática e valorização das histórias locais, o projeto “Conte Sua História” é mais uma ação da TransCine – Cinema em Trânsito que reafirma o seu compromisso com a formação de público, a democratização do audiovisual e a criação de espaços para que todos possam se reconhecer — e se ver — na tela.
Este projeto conta com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura (MinC), por meio de edital da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.
Serviço
19 a 23 de maio (18h às 22h) – Núcleo Humanitário da Nhanhá, rua do Comércio, 149, Jardim Nhanhá;
26 a 30 de maio (13h às 17h) – Projeto Socioeducativo Harmonia e Frutos, Travessa Ituxi, 49 (Jardim Columbia), de 26 a 30 de maio, das 13h às 17h.