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Crime muda logística e faz de MS uma das principais rotas para o tráfico de armamento pesado

Crime muda logística e faz de MS uma das principais rotas para o tráfico de armamento pesado

Localizado na parte central da América do Sul em uma área de fronteira com Paraguai e Bolívia, Mato Grosso do Sul começa a ser utilizado pelo crime organizado não só como porta de entrada de drogas e produtos contrabandeados, mas também uma das alternativas de rota para o transporte de armamento de grosso calibre até os grandes centros urbanos brasileiros.

Com o aumento relativo de apreensões de fuzis de diversos modelos e munições, tais ações vem chamando a atenção das autoridades. Em menos de dez dias, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) tirou de circulações 12 destas armas ao realizar três abordagens no Estado.

Em todas as ocasiões, o destino dos produtos utilizados por facções criminosas em guerras urbanas para manter o controle do comércio de entorpecentes e outras atividades ilícitas, seria São Paulo e Rio de Janeiro, onde atualmente estão enraizadas as duas maiores organizações do país.

Um desses flagrantes ocorreu no dia 27 de fevereiro, na BR-267, em Bataguassu, na divisa com São Paulo. O motorista de caminhão tentou despistar a equipe que realizava a fiscalização.

Na interceptação, os policiais encontraram dentro do veículo cloridrato de cocaína (droga com alto grau de pureza), pasta base, seis fuzis e 1,4 mil munições. Todo o material seguia à capital paulista.

“Em relação as apreensões de fuzis, não eram rotineiras no Estado. Elas ocorriam de forma maior dentro da rota Foz do Iguaçu – município paranaense que também faz fronteira com o Paraguai -, São Paulo e Rio de Janeiro. A partir de 2023 notamos um aumento significativo nas apreensões (de fuzis) por aqui”, disse ao Dourados News o chefe da delegacia da PRF em Dourados, inspetor Waldir Brasil, lembrando que outra unidade da federação bastante utilizada pelos criminosos é o Mato Grosso.

As portas de entrada em território sul-mato-grossense, segundo ele, são Ponta Porã e Mundo Novo, além de Corumbá, cidades localizadas nas fronteiras com Paraguai e Bolívia, respectivamente.

A partir desses locais, o material ilícito é transportado pelas rodovias do país rumo ao destino. E, justamente em uma dessas fronteiras que, na manhã de 6 de março, agentes da PRF apreenderam outros três fuzis.

Fuzis foram apreendidos pela PRF em Ponta Porã e tinham como destino o Rio de Janeiro – Foto: Divulgação/PRF

O fato aconteceu na BR-463, via federal que faz a ligação entre Ponta Porã e Dourados.

Os equipamentos estavam escondidos dentro do VW Polo conduzido por um carioca que se identificou como empresário na Rocinha, comunidade mundialmente conhecida no Rio de Janeiro (RJ), município para onde o armamento seria levado.

Ele acabou preso em flagrante junto da esposa e encaminhado para a Polícia Civil da cidade de fronteira.

Crime organizado

Quando as armas chegam ao destino final, além de fortalecer as facções na guerra urbana pelo poder, elas também são empregadas principalmente em atividades ilícitas que visam levantar recursos para financiar o crime organizado. O ‘custo final’ de cada unidade saindo de território estrangeiro e atravessando o país pode chegar até R$ 70 mil, dependendo do calibre.

Com esses equipamentos, os bandidos conseguem não só cometer roubos a bancos e carros fortes, como também, promover o enfrentamento aos órgãos de segurança pública nos respectivos Estados.

“Geralmente, o destino dessas armas são as facções criminosas. Seja para assalto a carro forte, disputa de territórios ou enfrentamentos à polícia”, disse Waldir.

Os materiais que entram por Mato Grosso do Sul através do Paraguai e a Bolívia são, na maioria, de origens russa, israelense, belga e também fabricadas nos Estados Unidos. Porém, a polícia já apreendeu algumas peças paraguaias falsificadas.

Mudança de rota

Fronteira seca entre Brasil, Paraguai e Bolívia auxilia na entrada de armas em território sul-mato-grossense – Foto: Arquivo/Dourados News

Para Waldir Brasil, essa ‘migração’ do crime organizado para outras rotas depende de alguns fatores, entre eles a logística.

No caso de Mato Grosso do Sul, boa parte da região de fronteira por onde o material ilegal entra é ‘seca’, ou seja, os países são divididos via terrestre, muitas vezes através de uma rua cortando cidades-irmãs, como Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.

“Isso (mudança de rotas) varia muito com a presença das facções. Vai desde a logística de transporte, além de outros fatores. E agora, com essa “união” do PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho), a ‘fronteira seca’ está ainda mais em evidência”, disse ao Dourados News.

Neste contexto, o delegado cita o trabalho de inteligência e a troca de informações da segurança pública para conter o avanço do contrabando dessas armas de grosso calibre.

“Quando se investiga uma organização criminosa, é como estar diante de um quebra cabeça. O diferencial, nesse caso, é a inteligência policial, a troca de informações, porque, muitas vezes, você tem peças desse quebra-cabeça e outro órgão de segurança pública possui outras. Aí, é fundamental as operações conjuntas, objetivando o desmantelamento da organização”, afirmou.

Possível união de facções

A união das duas facções a que o delegado da PRF em Dourados cita acima, ficou evidenciada após a publicação de um relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais.

O documento foi amplamente divulgado pela imprensa do país em fevereiro deste ano e nele, é apontado um possível acordo de cooperação entre as maiores lideranças desses grupos.

A ideia das organizações é o fortalecimento entre as partes para, segundo divulgado anteriormente, pleitear demandas dos principais líderes nos presídios federais do país, onde as medidas de segurança são mais rígidas.

Apreensões

No ano passado, dados divulgados pelo Governo Federal apontam que a PRF, Polícia Federal e outros órgãos de segurança da União apreenderam em Mato Grosso do Sul, 594 armas de fogo.

O número é maior que 2022 e 2023, quando foram tiradas de circulação 467 e 481 armas, respectivamente.

Já no Brasil foram mais de 100 mil apreendidas, segundo os dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Fonte: Dourados News

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