Frito, cozido, mexido, omelete e em preparos de tortas e bolos. O ovo é um alimento extremamente versátil e muito consumido pelos brasileiros, mas os preços têm tirado a proteína do cardápio de muitas famílias.
De acordo com dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o preço do ovo disparou neste ano, em Bastos, principal polo produtor do Estado de São Paulo. O preço dos ovos brancos do tipo extra registrou média de R$ 198,40/caixa com 30 dúzias em fevereiro (até o dia 20), alta de 39,4% em relação a janeiro. Para os ovos vermelhos, a média na região paulista ficou em R$ 227,24 por caixa, com avanços de 37,4% na comparação mensal.
Edson Trajano, economista e membro do Fórum de Agronegócio e Agricultura Familiar do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo), explica que o aumento no preço dos ovos é uma questão conjuntural, resultante de vários fatores:
- aumento no consumo nessa época do ano com a volta as aulas;
- redução da oferta com abates mais acentuado de matrizes no segundo semestre de 2024;
- excesso de calor que provoca desconforto as aves reduzindo a produção;
- aumento nos custos de produção com energia elétrica mais cara e ração também apresentou alta.
Ricardo Jacomassi, sócio e economista chefe da TCP Partners, comenta que, em pesquisa recente com produtores de ovos, foi constatado um efeito nos custos e também no consumo que impulsionaram os preços para o consumidor final e também para a indústria, entre elas de alimentos (massas) e de cosméticos que usam seus derivados.
“No caso dos custos a alta do preço do milho, 30%, nos últimos seis meses e a maior utilização de equipamentos para amenizar as temperaturas das granjas elevou o consumo de energia em toda a cadeia produtiva”, diz Jacomassi.
Ele concorda que o consumo das famílias e das indústrias também influenciaram na formação do preço. “As famílias procuraram substituir a proteína bovina devido a alta dos preços e uma das alternativas foi o consumo de ovos. Já a indústria alimentícia teve que ajustar seus preços para adequar a oferta dos produtores”, comenta Jacomassi.
A má notícia é que não há previsão de queda nos preços. “Não há expectativa de queda de preços para março, pois está iniciando o período da quaresma em que muitas famílias fazem a substituição de proteína de carnes por ovos, por tradição religiosa. A queda no preço do produto deve ocorrer a partir de abril com a volta da normalidade da produção e no consumo”, afirma Trajano.
O mercado brasileiro em números
- A produção de ovos no Brasil foi de 53,3 bilhões de unidades em 2020 e representou um crescimento médio anual de 6,4% em relação ao ano de 2010 – quando a produção atingiu 28,9 bilhões de unidades;
- Entre os 10 maiores produtores mundiais em 2021, o Brasil ocupou a 8° posição no ranking – a China é a primeira;
- O consumo anual de ovos pelo brasileiro foi de 251 unidades em 2020, dez anos atrás foi de 148 unidades – um crescimento médio anual de 5,4%;
- Cerca de 99,7% da produção de ovos brasileira é destinada para o mercado interno.
Estados Unidos
“É importante os consumidores ficarem atentos aos movimentos especulativos, incentivados pelas redes sociais. Há um problema de alta significativa de preços, em até 70%, nos Estados Unidos por conta da redução da produção com a gripe aviária. No entanto, isso praticamente não afeta o mercado brasileiro, pois só 1% da produção nacional é exportada. O consumidor deve sempre fazer uma boa pesquisa na hora das compras levando em consideração preço e tipo de produto, pois há ovos de tamanhos diferentes no mercado, com preços diferentes”, aconselha Trajano.
De acordo com informações do Cepea, os Estados Unidos têm enfrentado um cenário de alta nos preços dos ovos, em parte devido a surtos de gripe aviária, que resultaram na morte de milhares de galinhas e em redução na oferta interna. Esse cenário é diferente do que ocorre no Brasil.
“Embora o volume de exportações brasileiras para os Estados Unidos tenha aumentado 62% entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, fazendo com que o país subisse da sexta para a terceira posição no ranking dos principais destinos de ovos do Brasil, ainda é cedo para afirmar que isso terá um impacto significativo na oferta de ovos no mercado interno e/ou nos preços”, diz o Cepea.
Ressalta-se que a exportação brasileira de ovos representa menos de 1% da produção total, o que significa que a maior parte da produção permanece no mercado doméstico. Ainda segundo o Cepea, se a situação nos Estados Unidos se prolongar e o país continuar aumentando suas importações de ovos brasileiros de maneira consistente, isso poderá afetar a disponibilidade brasileira e, então, causar algum impacto sobre os preços domésticos.
No entanto, para que isso ocorra, o comércio entre os dois países deve tornar-se rotineiro, com os Estados Unidos constituindo um importante comprador de ovos do Brasil e representando forte estímulo ao aumento da produção nacional.
Fonte: IM/ML